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Claudete P. Soares
Poetrix e outros tiques
Textos
CAMINHÃO DE MUDANÇAS
    Uma coisa caiu do caminhão de mudanças! Foi deixada bambeando no meio de tantas coisas fúteis, uteis,caras, insignificantes... Estava insegura, solta por conta do descaso. A estrada  era íngreme, tortuosa, cheia de obstáculos que mexeram com suas fragilidades, derrubando-a na contramão. Ninguém se deu conta e continuou a viagem. No entanto, na organização de todas as coisas pela nova casa, algo estava faltando... O que seria? Estavam tão obcecados em deixar tudo no seu lugar que não conseguiam entender por que os espaços vagos não comportavam nenhuma outra coisa.
    Assim mesmo, os dias se passaram. E aquele vazio foi se tornando um imenso buraco que volta e meia alguém tropeçava, trazendo danos físicos e emocionais. Buscaram soluções paliativas como refinados ornamentos para taparem tamanho estrago.  Mas a criatividade não podia esconder e remendar por muito tempo rachaduras que se alastravam um pouco a cada dia, que mexiam com a estrutura do prédio e o elegiam à iminência de vir a baixo. A cera vai derretendo e a face da ruína se evidencia. O que está acontecendo? Algo foi deixado para trás... Algo que dava o brilho, que tornava os dias cheios de sol e as noites mais estreladas.  Esse algo que não se encontra na geladeira, no sofá da sala, na cama tão grande, na conta bancária. Que adianta procurarem se não sabem o que procurar! Não está escondido. De certo, já nem há... O que não há? Trouxeram tudo e adquiriram tantos mais! Percebe-se que essa coisa era a base de toda construção. E era sólida, uma vez que, não fora desaparecendo com o tempo, tinha sido deixada em algum lugar. Talvez, até, perdida pelo caminho... Sim! Simplesmente não estava ali! Eles perceberam com tamanho espanto que não deram falta daquilo que dava sentido, até então, a estarem ali, a motivá-los a seguirem juntos, apostarem na mudança, acreditarem no futuro... Deus do céu! Como foi possível esquecerem do amor? A razão maior resumida a um detalhe! Voltar... Quem sabe ele ainda estaria lá na estrada... Não há possibilidade. Os anos se passaram, a vida não tem parada e nem volta para trás. A casa caiu...  No seu lugar, um banco para um descanso e um contemplar ao passado.  Verão, num lampejo de saudade, o amor ainda jovem a brincar no horizonte distante e a simples recordação, com certeza, decifrará aquela flor que cresceu na beira de uma estrada que segue longe... Vinda de uma semente que caiu do caminhão de mudanças.
Claudete P Soares
Enviado por Claudete P Soares em 02/04/2012
Alterado em 15/12/2016
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