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Claudete P. Soares
Poetrix e outros tiques
Textos
O CONTO DO PIOLHO APAIXONADO
 
Esse piolho morava na cabeleira de um morador de rua, lugar que lhe proporcionava muito sangue bom, devido ao clima seco e solo pouco explorado daquele lugar. Dessa forma, seguindo os preceitos dessa natureza, era anarquista. Levantava bandeiras contra a exterminação da sua espécie e a proliferação dos carecas. Fazia parte de um movimento à preservação de um território livre de influências químicas, maquininha zero e espumantes em geral. Lutava pelo direito à vida parasita. Era estudante de psicologia, pois sempre quis entender sobre coisas da cabeça e do “couroação”. Romântico sem cura, poeta por natureza, músico por distração (dos ouvidos alheios), com tendência a relacionamentos complicados, apaixonou-se por uma pulga sanguessuga. Uma tragédia de amor...

Quando aquele “totó” se aproximou, pedindo abrigo no seu condomínio, deitando-se ao lado do moço morador de rua, sentiu que algo iria rolar. Foi então que a viu: A pulguinha, toda atitude, consumindo a “doidado” aquele mundo cão. Freqüentadora assídua das “raves” animais, elétrica, nem sequer o notou. Porém, aconteceu: amor à primeira coceira! E o que fazer? Era alérgico a pelo... Uma aproximação seria muito arriscada à sua saúde... Mas como disse, casos complicados era o seu forte; ou melhor, a sua fraqueza. Tudo aquilo só veio estimulá-lo a elegê-la como sua musa inspiradora. Mesmo sendo eles tão diferentes um do outro, a paixão tomou-lhe a alma. Infelizmente, seu papo cabeça não plugava na dela. Tornou-se um inseto diante ao desprezo daquela criatura! Caiu na vida capilar, deixou de lado seus planos, as batalhas a serem travadas contra o inseticida e o pente fino. Voltou a beber, sugar... E passou a se intitular “o piolho apaixonado”.

Todavia, seus rogos àquela rogada, começaram a incomodar a comunidade. Ninguém dormia em paz, a perturbação era geral. Ele passou a fazer serenata, todas as noites, do alto da sua morada para pulga, que continuava dando os seus pulinhos, indiferente ao pobre verme. Devido a isso, os piolhos anciões, que ditavam as regras naquele couro cabeludo, convocaram a todos para uma reunião no campinho da associação dos moradores (uma falhinha de cabelo na zona do cocuruto do rapaz), na qual tomariam decisões quanto ao comportamento do nosso “Romeu sem Julieta” . Todos compareceram, até o próprio piolho apaixonado. O estacionamento estava superlotado de “carrapatos” (veículos importados de outras bandas para serem utilizados na cidade). As lêndeas ocupavam um lugar de destaque, pois representavam o futuro da nação. Depois que a história foi contada, a piolhada declarou que era um amor impossível e que o réu, em questão, deveria desistir do romance ou abandonar a cabeleira. Diante à insistência do piolho em continuar alimentando falsas esperanças, foi convidado a se retirar. Arrumou sua trouxa, amarrando-a na ponta de uma lasquinha de palito de dente, que ajeitou sobre o ombro e seguiu, descendo, fio a fio, para um futuro incerto.

Chamou a pulga para fugir com ele para um lugar comum aos dois. Quem sabe para uma ave de rapina, onde poderiam viver nas alturas... Ela o olhou atravessado e deu de ombros. Declarou mais uma vez todo seu amor. Ela riu da sua gagueira emocional. Decepção atrás de decepção... Esperou pela próxima linha de cabelo que se aproximava, deu sinal e pulou para um novo destino.

Depois de um tempo sumido, sem dar notícias aos parentes que ficaram, uma reportagem do jornal local, trouxe o paradeiro do piolho apaixonado. Era manchete: EXTRA! EXTRA! LEIAM A HISTÓRIA DO PIOLHO APAIXONADO QUE TIROU A PRÓPRIA VIDA! Isso mesmo, nosso herói ( agora, assim, era reconhecido) tinha se rendido ao inseticida, deixando um legado de sangue e desilusão. Era o fim da picada! Contudo, morto, ficara famoso e até ganhara posição:
“INSETOCIDA ,O PRIMEIRO INSETO SUICIDA”.




O PIOLHO APAIXONADO

O PIOLHO ESTAVA APAIXONADO
PELA PULGA DO CÃO AO LADO.
ELA SEQUER LHE DEU BOLA:
PAPO CABEÇA, NÃO COLA!

PENSOU ATÉ EM SE MUDAR
DO CONFORTÁVEL CABELO,
PORÉM, ERA ALÉRGICO A PELO
E ISTO O FEZ PONDERAR...

FEZ SERENATA PRA ELA
DO ALTO DA SUA MORADA...
A MOÇA NEM LHE DEU TRELA,
MUITO SE FEZ DE ROGADA!

QUIS SE MATAR DE DESGOSTO!
BEBEU, ENTÃO, INSETICIDA.
MORREU FAMOSA E GANHOU POSTO:
"O PRIMEIRO INSETO SUICIDA."
 
Claudete P Soares
Enviado por Claudete P Soares em 01/09/2008
Alterado em 04/12/2020
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